Olá Beto,
Fiquei emocionada com a história de nossa amiga e compartilho com ela as inúmeras dificuldades que temos no acesso ao conhecimento e à aprendizagem.
Eu também fiz o curso de Direito já cega e se não fosse minha mãe a ler e gravar os livros durante os cinco anos da faculdade, realmente eu não teria condições de terminar o curso.
Também fiz duas pós-graduações nestas mesmas condições, uma em Direito do Estado e outra em Educação Especial. Igualmente para fazer o concurso público para o Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Mato Grosso do Sul onde trabalho desde 1989. Dependi de minha mãe que incansavelmente gravou toda a matéria para o mencionado certame no qual obtive o terceiro lugar na lista geral.
As tecnologias trouxeram um grande avanço para nós deficientes visuais, todavia ainda estamos na dependência das outras pessoas e também de instituições que embora bem intencionadas, não atendem as nossas necessidades.
Cite-se exemplificativamente a Fundação Dorina que com o programa LIDA, atraiu para si toda a responsabilidade de resolver os problemas de leitura das pessoas cegas brasileiras. Entretanto cada pessoa tem uma realidade diferente e como no meu caso pouco tempo disponível para ler e aprender novos comandos.
O sistema LIDA nos oferece inúmeros comandos que temos que decorar além de apresentar-se numa voz difícil de entender. Também não nos proporciona a possibilidade de verificar a grafia de palavras desconhecidas e de copiar os textos dos livros para uma monografia citando logicamente a página e a autoria, fazendo com que a nossa produtividade caia em todas as áreas, em particular, a profissional e a acadêmica.
Além disso, o atendimento é precário como não poderia deixar de ser, visto que as solicitações devem ser numerosas. Não seria mais fácil as editoras disponibilizarem os livros digitais em word e os nossos programas como o Virtual ou Jaws efetuarem a leitura?
Qual a razão das editoras acharem que nós cegos não temos a responsabilidade de comprar um livro digitalizado e não repassá-lo a quem não seja cego? O fato é que as barreiras do poderio econômico mais uma vez impedem o ser humano de crescer intelectualmente e de se realizar como pessoa, desrespeitando a nossa dignidade.
A política Nacional do livro consubstanciada na lei nº 10753/2003 nos garante este acesso, falta transformar a retórica legislativa em condições de real acesso à leitura.
Avante, vamos lutar incansavelmente por nossos direitos, especialmente ao da acessibilidade à informação e ao conhecimento.
Abraços,
Autora: Tania Cunha.
Contato: tania.cunha@tre-ms.gov.br.
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